terça-feira, 27 de junho de 2017

Novos cenários para a velha caminhada


Apesar de minhas férias terem começado oficialmente ontem (e elas já estavam agendadas antes de eu precisar tirar licença prêmio para cuidar da minha pequena), só hoje consegui me liberar do trabalho para aproveitá-las.
 
E acho que Leti, mesmo sem saber, pressentiu o clima de férias.
 
Invadiu meu quarto cedinho, descartou a companhia da babá, venceu obstáculos pelo caminho (sim, o quarto tava uma zona!), e me disse de maneira sedutora: "mamãe, eu quero resenhar".
 
Subiu em minha cama, deitou ao meu lado e ficava se aninhando em mim como gato, dizendo que queria ver TV.
 
Acho que ela ainda não entende o exato significado da expressão resenhar, então aproveitei a oportunidade para tentar explicar e, de quebra, para tentar tirá-la um pouco da TV.
 
Ficamos um tempão (para ela um tempão pode variar em torno de 10 a 15 minutos) deitadas conversando  e ela esbanjava animação!
 
Num determinado momento começamos a brincar de caras e bocas. Ela dizia o sentimento, eu fazia a carinha correspondente. E daí passamos pelos conhecidos feliz, triste, raiva, sono, fome... até que surgiu o PREOCUPADA. Uau!!!!! Mais um sentimento para o repertório, e um pouco mais abstrato que os velhos conhecidos... Como cada pequena conquista, esta também foi amplamente comemorada.
 
Ela estava mais carinhosa que o usual, e me encheu de beijos molhadinhos.
 
Quando cansou, levantou e foi para seu quarto.
 
Tempos depois, a babá surgiu com ela, dizendo que iam caminhar pelo condomínio. Pedi que aguardasse um pouco porque faríamos uma caminhada diferente desta vez.
 
Como vi a roupa que estava vestida (que tinha comprado igual pra mim, para usarmos numa viagem), resolvi vestir a mesma, sem falar nada.
 
Quando entrei em seu quarto, e pedi que olhasse para mim, seus olhinhos brilharam quando percebeu que estávamos iguais! Foi tão lindo de ver...
 
Convidei-a para caminharmos no Dique e ela desceu num pulo, como NUNCA faz, vez que quando não se nega a ir, acaba tentando negociar para ir mais tarde.
 
Fiquei impressionada!
 
Na hora que Mateus me viu pegar a bolsa, começou a chorar querendo ir junto, mas lhe disse que aquele seria um passeio de meninas e que ele não poderia ir. Seguimos só nós duas e percebi sua expressão de satisfação quando entramos no elevador.
 
O caminho até o Dique foi de papo solto, sorrisos e cumplicidade!
 
E, apesar d´ela resistir um pouco para descer quando estacionamos o carro lá, o passeio foi recheado de momentos bons.
 
Ela caminhou com desenvoltura e prazer! Observava atentamente tudo que lhe mostrava, demonstrando interesse. Vimos pessoas andando de caiaques, trabalhadores catando folhas secas pelo chão, "patos" (que nos ensinaram lá se tratarem, na verdade, de gansos) sendo alimentados, barquinho atracado, barquinho 'naufragado', árvores lindas (sempre tenho um olhar especial para as árvores), pessoas caminhando em ambas as direções, parquinho de areia enlameado por conta da chuva de horas antes, orixás...
 
Cada coisinha que víamos, rendia um comentário, uma história...
 
Vi, pela primeira vez, lá uma placa explicando o significado de cada orixá. Como estava um pouco avariada, não dava para identificar com precisão cada um. Sugeri que nos aproximássemos para olhar, e ela aceitou. Conversamos, então, um pouco sobre Yemanjá. Nesta hora, ela lembrou de um passeio de pedalinho que fizemos anos antes ali, quando ela, de acordo com os símbolos que identificava, ia dando seus próprios nomes aos orixás e, à Yemanjá, tinha dado o nome de Branca de Neve por conta do espelho.

Vimos um homem pescando em um banco de areia no meio da lagoa, parecendo estar se equilibrando sobre as águas e, no exato momento que passamos, ele tinha conseguido pegar um peixe. Ela, espontaneamente, e num tom um pouco mais alto que o usual, soltou um "vou comer o peixe", arrancando sorrisos de quem passava por perto.

Apesar d´ela ainda mostrar um pouco de insegurança na caminhada externa, fazendo questão de estar sempre segurando a minha mão, ela, curiosamente, parecia mais leve e segura.

Sinto, na verdade, que a nossa relação vem passando por uma fase de transição.

Ela, que sempre foi escancaradamente mais apegada ao pai, começa a fazer mais questão da minha companhia, a demandar mais pela minha presença, a demonstrar mais carinho através de beijinhos molhados e aconchego, a sentir mais prazer nos programas que proponho.

E ela, que é uma negociadora nata, e tem sempre um "mais tarde" ou "amanhã", para qualquer proposta que demande um mínimo que seja de esforço físico, tem se mostrado mais aberta, caso o programa seja comigo.

Não precisa nem dizer que ando irradiando felicidade pelos poros e pedindo que esta fase dure para sempre.
 












segunda-feira, 26 de junho de 2017

Mãe em sistema de revezamento

A maternidade impõe escolhas, prioridades. Para quem realmente se propõe a ser mãe, a vida deixa de ser como era antes, depois que a cria nasce. E não tem como ser diferente! O bebê humano é o mais dependente dos mamíferos e, nos primeiros anos de vida, demanda cuidados sem os quais sua vida corre perigo. O tempo para as atividades antes corriqueiras, portanto, fica mais escasso. E como não ganhamos, de bônus, horas excedentes em nossos dias depois que nos tornamos mães, surge a necessidade de fazer escolhas.
 
É claro que dá para continuar trabalhando, malhando, cuidando do casamento, encontrando as amigas,  acompanhando as notícias, viajando... depois que se tem filho. Mas não há como negar que são necessários ajustes para descobrir a melhor forma de colocar a dinâmica para voltar a funcionar, sem que os compromissos antes assumidos (conosco e com o outro) prejudiquem o compromisso maior que acaba de chegar.
 
Pois bem. Se com UM filho, a vida da gente já muda consideravelmente, imagina com TRÊS. E se os três têm idades completamente diferentes e um deles ainda tem necessidades especiais, ah, aí o nível de complexidade pode aumentar em proporções geométricas.
 
Neste caso, a maternidade impõe, além de escolhas e prioridades, uma cota extra de criatividade e de disponibilidade para o aprendizado. Diariamente.
 
Tenho abusado da minha cota extra de disponibilidade para o aprendizado para exercer a maternidade em casa. E este exercício tem potencializado o uso da minha criatividade. Com a primeira, descobri que preciso aceitar a fazer programações em separado com meus filhos, para melhor atender a seus interesses (falei sobre isso neste post), com a segunda, vou tentando colocar a descoberta em prática.
 
E assim nasce a mãe em sistema de revezamento. Mãe que leva o filho mais velho a uma escola, e os mais novos a outra; mãe que vê animação no cinema com os pequenos de tarde, e comédia americana com o grande à noite; mãe que caminha com a filha - em ritmo quase de passeio - pelo condomínio à tarde, e transpira com o mais velho na academia à noite; mãe que aproveita quando um dos filhos quer passar um turno na casa de um dos avós, para poder dar uma atenção mais intensa ao que ficou em casa; mãe que precisa ser dura - de vez em quando - com aquele que sempre demanda atenção, para poder cuidar daquela que, se deixar, fica em seu cantinho o dia todo (mas que começa demandar seu espaço também); mãe que, vez por outra, invade o quarto do adolescente altas horas da noite, para colocar em dia o papo que ficou sacrificado pelo cuidado com os pequenos; mãe que exercita a sensibilidade para perceber que programação cabe para cada filho, em conjunto ou separado, oportunizando-se o exercício da escuta; mãe que se desdobra para descobrir a melhor forma de atender aos interesses e às necessidades dos filhos.
 
E olha que só estou falando do revezamento na maternidade. Desconsiderando todos os outros necessários para a prática das atividades do nosso dia-a-dia.
 
Lendo, pode soar cansativo, mas (tirando - para mim - a dificuldade de admitir fazer programação familiar com a família compartimentada) o sistema vai-se impondo de forma tão natural que nem nos damos conta.
 
Em alguns dias o revezamento sai redondo, proporcional, e eu durmo feliz, com a sensação de dever cumprido; em outros, fico com a impressão que algo poderia ser feito de um jeito diferente. Nestes dias, já fui dormir inundada de culpa, me sentindo em débito com um dos meus filhos. Hoje em dia, lido melhor com a situação, sabendo que a dinâmica familiar não pode ser otimizada através de uma equação matemática, e que estas inexatidões fazem parte do processo. E assim vamos seguindo.
 
Mas ontem foi um dia redondo, feliz! À noite, quando o dia insistia em anunciar o seu fim, a sensação que me invadia era de plenitude, de felicidade incontida, de... sei lá, algo indizível...
 
O início do dia já dava pistas do que estava por vir.
 
Leti acordou feliz. Irreverente. Logo que entrei em seu quarto ela me saiu com a pérola: "Mamãe, vamos conversar? Eu quero resenhar com você." (resenhar é uma expressão muito usada pela família de Samir).
 
E aqui vale abrir um parêntese.
 
Dias antes, quando tive a reunião devolutiva da Ciranda, eu conversava com a TO coordenadora do seu grupo e ela questionava se o discurso de Leti sempre focado em comida, mesmo quando está indiscutivelmente saciada, não seria uma maneira, ainda incipiente, de incremento do seu processo de comunicação. Ela dizia que quando Leti chegava já pedindo biscoito, mesmo tendo acabado de almoçar, ficava com a sensação de que o que ela queria, de fato, era falar algo do tipo "oi, Luíza, tudo bem?". Mas, com o repertório viciado, o diálogo começava meio às avessas.
 
Ouvir este seu convite logo pela manhã me fez pensar que Luíza, realmente, deve estar certa.
 
E me fez recordar do desenvolvimento do processo comunicativo de Leti e da significância de cada etapa: no início, quando queria que ela simplesmente falasse; depois quando desejava que formasse frases; em seguida, quando o desejo era que as frases fossem funcionais; depois, que falasse um pouco sobre sentimentos; que falasse na 1a pessoa...
 
Meu desejo atual é que tenha a iniciativa de um diálogo mais abstrato (que não tenha como finalidade apenas atender a uma necessidade atual) e que relate fatos ocorridos. Parece que estamos passando por uma fase de transição.
 
Fecho o parêntese.
 
É óbvio que aproveitei a disposição dela para a resenha para conversar, apertar, encher de beijo e brincar. E como foi divertida a brincadeira!
 
Eu dizia que ia fazer um ataque de cócegas, ela se encolhia toda, sorrindo e esperando as cócegas, me derrubando no final, para se liberar, depois do que eu, ao cair no chão, fazia uma mega encenação que tirava dela gargalhadas intermináveis. A brincadeira se repetiu diversas vezes. Numa vez, me fingi de morta e disse que precisava de um beijo para voltar a viver, como a Branca de Neve. Ela me ignorou e saiu do quarto. Continuei imóvel. Quando ela voltou e me viu na mesma posição, disse "mamãe está muito morrida...", correu e me deu um beijo.
 
Várias outras brincadeiras se sucederam, o que, por ser muito raro com minha pequena, deu àquele momento um quê pra lá de especial.
 
Como Mateus quis ir para a casa da avó e Lipe ainda dormia, resolvemos ir à Barra, fazer nossa caminhada matinal com Leti lá.
 
Ela, como sempre, apresentou uma resistência inicial, mas logo cedeu, demonstrando que, sim, aquele era um passeio possível para ser feito por nós três: eu, ela e o papai.
 
E como foi delicioso caminhar com ela pela Barra! O dia estava lindo, o sol quente na medida certa, a ocupação agradável, sem causar tumultos, as belas paisagens naturais nos cercando por todos os lados.
 
Ela ainda demonstra uma certa insegurança em caminhar sozinha pelas calçadas, mesmo onde o piso é liso, e isso nos deixa um pouco intrigados, já que ela caminha bem em ambientes fechados. E, cada vez que precisava parar para tirar uma foto, por exemplo, se agarrava a nosso corpo, parecendo ter medo de cair.
 
Mas isso não tornou o passeio pesado. Pelo contrário. Nos permitiu experimentar estratégias para tentar ajudá-la a lidar com o medo.
 
Ao final, conseguimos manter uma hora de caminhada (o dobro do que fazemos em nosso condomínio), que serviu para cuidar da saúde física e mental de nós três. Foi uma deliciosa manhã de inverno.
 
 

 
 
O meu desejo para a tarde era dar um passeio pelo Pelourinho. Estava doida para conferir a decoração de São João.
 
Leti não quis ir, o que já era esperado; Mateus, na casa da avó, pediu que fôssemos buscá-lo para que pudesse ir concosco, e Lipe também topou a programação.
 
Quando fomos buscar Mateus, deixamos Leti - muito animada, inclusive - na casa da avó, e fomos dar uma olhadinha no Pelô.
 
Não chegamos a ver nenhuma apresentação junina. A ideia era apenas conferir a decoração junina e caminhar sem pressa, por onde desse vontade, coisa que não conseguimos fazer quando Leti está conosco, por conta das suas limitações.
 
A decoração, como eu imaginava, estava linda!
 
 
 
Aproveitamos para desbravar a parte do Pelô que vai dar no Carmo, e que ainda não conhecíamos (apesar de termos jantado uma vez no Pestana, mas parando o carro lá pertinho) por que exige uma caminhada considerável por uma ladeira.
 
O passeio nos reservava uma grata surpresa!
 
É bem verdade que sou suspeita para falar das belezas do Pelourinho, porque me encanto por cada pedacinho daquele lugar.
 
Mas passamos por casinhas diferentes, igrejas diferente, estabelecimentos diferentes, cada um com sua graça.
 
 
No caminho nos deparamos por uma longa escadaria que abrigava, em seu topo, um pequeno vira lata e é óbvio que Mateus quis subir cada degrau para ver o que o cachorrinho fazia lá em cima.
 


De lá seguimos nossa despretensiosa caminhada. O objetivo era simplesmente ver, conhecer as redondezas, sem qualquer intenção específica mas, como era hora do lanche, assim que avistou um Café, Samir sugeriu que fizéssemos uma parada.
 
Bendita parada!
 
A fachada do Cafelier, apesar de charmosíssima, pouco fala da singeleza do seu glamour (se é que isso é possível). A decoração rústica, com seus objetos clássicos, passando pela simpatia do dono do estabelecimento, que tomava seu café antessala de espera, enquanto um Garfield gato descansava preguiçosamente na mesa de jantar ao lado, são poucos se comparados à decoração do ambiente que atravessa o corredor, nos brindando, ainda, com uma linda vista da Baía de Todos os Santos. A bailarina pendurada no teto é linda! Os quadros são lindos! As cadeiras de ferro azul são lindas! As flores cor de lavanda são lindas... É tudo lindo demais por ali... O lanchinho é bom e o atendimento muito atencioso! Foi, sem dúvida, uma grande descoberta! É daqueles lugares que dá vontade de voltar para escarafunchar cada cantinho...
 
 
 





 

De lá ainda subimos mais um pouco para ver o Plano Inclinado, na esperança que estivesse aberto. Mas não estava. Descobri agora que não abre aos domingos.



A esta altura, eu ainda estava com meu instinto explorador aguçadíssimo, mas meus meninos davam sinais de fadiga. Resolvemos, então voltar.

No retorno, ainda paramos em frente à igreja onde tirei a foto do meu convite de formatura para um registro e no Largo da Casa de Jorge Amado para outros cliques.


 
Voltamos leves e felizes, sentindo o incremento de uma cumplicidade sem que qualquer palavra precisasse ser dita.
 
E para fechar o dia com chave de ouro, tivemos a visita festejadíssima de meus pais com quem, juntos, pudemos viver mais deliciosos momentos em família.
 
 
 
 
Este foi, de fato, daqueles dias em que o revezamento cumpre, com honras, o seu papel!

terça-feira, 20 de junho de 2017

9 aninhos!

Ela completou 9 aninhos ontem! Este ano não fizemos festa. Foi apenas um lanchinho, só para batermos os parabéns, com suas 3 amigas da escola, as avós, a bisa e os tios (três dos cinco que tem).
 
Ela acordou bem humorada, sorridente, conversadeira. Enchi de beijo, disse que era seu aniversário, dei os parabéns. Ela pediu o celular para ver youtube. Tentei argumentar, disse que queria conversar um pouco antes. Ela insistiu. Propus cantar para ela o hit que mais tem ouvido ultimamente: "Knock, knock, trick or treat...". Nesta hora, ela rebateu. "Não. Happy birthday to you..."
 
Pausa para uns apertos!
 
O dia foi recheado de carinhos e de bom humor. Ela pôde escolher o que queria e o que não queria fazer. Teve direito à sobremesa e a faltar a aula de natação. Escolheu os livros que queria ler, e as brincadeiras a fazer com suas amigas. Comeu tanto doce (na verdade nem foi taaanto assim), que rejeitou o bolo. Mas quando teve oportunidade, roubou um pedacinho e saiu correndo dando risada.
 
Salvo episódios isolados, passou o dia bem, divertida, radiante! Foi um dia feliz em que celebramos, além do seu aniversário, tudo de bom que tem acontecido em sua vida.
 
Parabéns, minha princesa!
  






quinta-feira, 15 de junho de 2017

Projeto de Atriz

Hoje ela acordou molinha, chorosa, sem querer nada, nem comer. A coisa ficou tão séria que passamos o dia oferecendo comida. Para nossa sorte, tínhamos marcada para hoje uma consulta com sua homeopata que me orientou nesta delicada fase de transição da halopatia para a homeopatia. À noite, quando ministrava a medicação, ela pediu picolé, biscoito, comidinha... Depois de comer os dois primeiros e rejeitar a janta, pediu mais biscoito. Disse que não poderia comer mais porque já tinha comido. Ela instantaneamente respondeu: "- mamãe, me dá biscoito que eu se (sic) acalmo!"
 
Quando eu digo que a Globo tá perdendo ninguém acredita!!!

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Uma carta para Letícia

Filha linda!

Hoje eu quero falar para você. Não faço ideia de quando você vai conseguir decodificar esta mensagem, nem quando estará pronta para interpretar o seu conteúdo, mas, ainda assim, não quero perder a oportunidade de assumir, por escrito, o compromisso que fiz contigo no último domingo.
 
Quero, antes de tudo, te pedir desculpas.
 
Sim, eu percebi os sinais que você me mandou mas, mesmo assim, meu desejo de te ver brilhar era tão grande, que acabei me cegando para os seus reais desejos.
 
Sabe, com a proximidade do São João, com a recente melhora do seu quadro, e com os relatos da sua monitora de sala de aula, de que você ia bem nos ensaios da apresentação junina, eu revivi a imensa alegria de dois anos atrás, quando você, recém ingressa na nova escola, surpreendeu a todos na festinha de São João, e alimentei a esperança de reviver aquela experiência.

Mas nos 3 dias que antecederam a festa você, que ia tão bem, mudou um pouco. Estava visivelmente mais ansiosa, apertava as próprias bochechas, intensificou algumas estereotipias e, vez por outra, repetia, como uma mantra, a frase "São João não".
 
Confesso que cheguei a cogitar a possibilidade de mandar a apresentação às favas, mas você tinha ido tão bem no último ensaio que me fez querer apostar na sua capacidade de surpreender (e você nos surpreende tanto...), sem saber quanto isso custaria.
 
Mandei fazer um vestido lindo para você, entramos todos no clima e lá fomos nós para a escola, em pleno domingo, comemorar o São João.
 
Mas quando eu cheguei na escola, tive uma sensação estranha.
 
A escola estava linda, toda decorada, os funcionários ainda mais animados que o normal, as comidas típicas super apetitosas, o clima de São João em cada cantinho... Todo mundo que te via abria um sorriso tão verdadeiro e fazia um gracejo tão tocante...
 
Mas tive a sensação de que o som estava mais alto que o dia anterior, quando lá estava comemorando o São João do seu irmão caçula, que as pessoas faziam mais barulho ao conversar, que tinha gente demais num espaço de menos.
 
Na verdade, hoje percebo, tudo estava exatamente igual ao dia anterior, mas, naquele momento, eu senti o ambiente como, talvez, você o estivesse sentindo e isso fez meu coração se apertar até quase desaparecer.
 
Foi difícil te deixar com sua monitora na sala onde seus colegas estavam concentrados e me juntar aos pais para o momento tão esperado porque a minha vontade era ficar grudada em você.
 
Mas já tínhamos ido tão longe, por que não esperar mais um pouco?
 
E, como eu imaginava, a apresentação não foi semelhante a de dois anos atrás.
 
Ainda que a equipe da escola tivesse tido o cuidado de atribuir a você um papel que você conseguiria dar conta, todo o entorno, sem dúvida, te desestabilizou e impediu que você colocasse em prática tudo o que ensaiou. Até alguns artistas tremem ao subir ao palco...
 
Eu sei, minha pequena, tinha muita gente que você não conhece, muito barulho, muitos sentimentos misturados, muita expectativa.
 
Eu sentia o quanto estava difícil para você e, por isso, quis ficar perto de você entre uma apresentação e outra (eram duas curtinhas) para conversar com você, te acarinhar, tentar te tranquilizar.
 
Mas não foi suficiente!
 
Fico pensando o que você sentiu por mim naquele momento e confesso que me martiriza um pouco imaginar que você talvez estivesse me odiando por não tirar você daquela situação imediatamente! E você teria razão.
 
A Letícia de hoje não é a de dois anos atrás. Você está mais voluntariosa, mais decidida, menos flexível às coisas que não te agradam. E esta evolução é um espelho do seu desenvolvimento que tanto comemoramos.
 
Eu fico inflada de amor ao te ver bater na mesa, com uma cara séria, dizendo que não quer algo. E guardo a parcela de "mãe nutella" que toma conta de mim para lidar com a situação com a firmeza necessária que uma atitude desta maturidade pede, quando o momento não é de se negociar.
 
Mas eu me ceguei. Não ouvi os seus sinais. Não peguei você pelos braços e saí correndo dali. E, como, infelizmente, não tenho o super poder de fazer o tempo voltar para fazer algo diferente, resta-me pensar daqui para frente.
 
Por isso, ao sair da escola te pedi desculpas (e não sei se se lembrará disso quando puder ler este texto) e te prometi que aquela teria sido a última vez.
 
Você não precisará mais dançar quadrilha, nem fazer qualquer apresentação em público na escola se este não for o seu desejo. Você já precisa fazer tanta coisa que talvez preferisse não fazer que não seria justo te impor mais isso. E eu, como sua mãe, estarei firme e atenta para assegurar que terá este direito respeitado. É o mínimo que posso fazer.
 
O importante, tenho consciência, é o processo de criação com seus colegas e a equipe da sua escola, e disso você continuará participando, no seu tempo, do seu jeito e de acordo com a sua capacidade. Como sempre foi.
 
E quem sabe eu negocio com a escola para poder, sozinha, assistir ao ensaio final de uma próxima vez?
 
Seja como for, o objetivo deste post é pedir publicamente o seu perdão. E sei que já me perdoou, porque a serenidade do seu semblante ao ouvir o meu pedido de desculpas e o meu compromisso para o futuro, bem como o retorno ao seu estado de tranquilidade depois da nossa conversa deixaram isso suficientemente claro para mim.
 
Te prometo, minha pequena, de coração tranquilo e sem culpas - porque tenho consciência de ser humana e suscetível a erros - estar ainda mais atenta aos seus sinais, validar ainda mais as suas manifestações de vontade e buscar me melhorar a cada dia para poder te fazer feliz. Até o último dia da minha vida.
 
Te amo,
 
Sua mãe
 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Pronta para voltar

E, num piscar de olhos, a licença acabou! Na próxima segunda feira já é dia de voltar ao trabalho, mas com a robusta sensação de dever cumprido.
 
Como disse no último post, Leti vai de vento em polpa. E se ela está bem, eu fico ótima!
 
Acho que depois da minha fase de luto, época em que descobri que a filha que eu tinha recebido não era exatamente a que eu havia idealizado, e quando eu achava que tinha que conhecer tudo o que existia para o tratamento do autismo, para experimentar nela; esta foi a época em que fiquei mais perdida em relação ao que fazer com Leti. Me senti uma cega em tiroteio, querendo atirar para todos os lados...
 
Mas o fato é que passou. E foram tantas coisas que fizemos, que nem sei à qual devo atribuir os méritos da melhora. Mas isso não vem ao caso.
 
Ela está linda, aberta ao mundo, tranquila, feliz! Conserva, sim, algumas estereotipias, uns interesses restritos, alguns comportamentos que eu preferia que ela não tivesse, mas com os quais aprendi a conviver, entendendo que fazem parte dela.
 
E a vida volta a seguir seu curso natural, permitindo-nos resgatar alguns projetos que andavam sobrestados, aguardando o momento mais adequado para serem retomados, dentre eles, a vinda de suas amigas de escola a nossa casa.
 
Há alguns meses as lindas amigas de Leti vêm me abordando para marcar um encontro aqui em casa. Mas daí veio carnaval, depois o período crítico de transição da medicação, depois uma faringite...
 
Só agora conseguimos promover o encontro, que foi franqueado às amigas escolhidas pela minha pequena, em respeito ao seu desejo e à sua manifestação de vontade.
 
Estes momentos, como já relatei aqui e aqui (para quem tiver tempo para ler), são sempre muito ricos e hoje não foi diferente!
 
Mesmo com toda a resistência que Leti tem para brincar, ela brincou.
 
Chegou em casa ansiosa para "brincar" com seus lençóis e para ver vídeos no youtube e teve tempo para isso enquanto as meninas exploravam com Mateus algumas possibilidades.
 
Depois do almoço, aceitou a sugestão da amiga para brincar de esconde-esconde e não economizou alegria na brincadeira! Eu sempre ia na dupla com ela, fosse para contar ou para se esconder, para facilitar a sua participação. E ela contou direitinho, com o rosto escondido na parede, saía saltitando para procurar as meninas, gargalhava quando as encontrava. Na hora de se esconder, sugeria o local, ficava quietinha e, quando fazia menção de fazer barulho, e eu sinalizava, colocando o indicador em frente à boca para fazer silêncio, ela repetia meu movimento, dando aquele soprinho, típico de quando se pede silêncio. (vontade de morder) Linda demais!
 
Brincamos também com umas cartinhas de animais que ela ganhou de presente de minha irmã, que oportuniza uma espécie de jogo de adivinha. Quando íamos começar uma segunda etapa, com cartas diferentes e uma regra diferente, proposta pela amiga, ela acabou cochilando.
 
Enquanto ela cochilava, as meninas tomaram banho de banheira e, 30 minutinhos depois, estavam todos prontos para descer para um piquenique.
 
Lá embaixo, Leti participou, juntamente com as amigas, do lanche, das histórias e de mais esconde-esconde. Observou de perto a brincadeira no parque, o patinete, a bicicleta... Respeitando o tempo e o interesse de cada um, íamos fazendo mediações para oportunizar que minha pequena pudesse usufruir ao máximo da companhia de suas amigas. E tudo fluiu muito bem!
 
Ao longo da tarde, que terminou por volta das 17 horas, tivemos deliciosos momentos de diversão, que nossas lentes não conseguiram captar, para eternizar o registro, mas que estarão, sem dúvida, devidamente guardados para a posteridade em minha memória.
 
E agora que uma versão diferente minha desponta, mais leve e solta que a versão de um mês atrás, resultado de todo o processo de melhora de Leti, vou aproveitar o clima de estabilidade, e o tempinho de licença que me resta, para fazer a única coisa que falta para me sentir pronta para o retorno ao trabalho: cuidar um pouquinho de mim. #partiusalão rs
 
 
 
 
 
 
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