terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A Margem do Negociável

Na sexta Leti retomou suas atividades da Ciranda. Ontem, a escola.
 
Muitas mudanças a aguardam neste novo ano.
 
Por todo o segundo semestre do ano passado, ela apresentou resistência para ir à Ciranda Pedagógica. Sempre que era dia de pedagógica, ela repetia "Pedagógica, não. Terapêutica!".
 
Já perto do final do ano, eu lhe dizia que precisaria concluir o trabalho na pedagógica, mas que se, de fato, eu percebesse que ela não estava querendo continuar, no ano seguinte ela sairia da Pedagógica.

E ela é tão esperta que, nos últimos dias, já repetia: "você vai tirar você (no caso, ela) da Pedagógica".
 
Quando decidimos colocá-la na Pedagógica, há dois anos, fiquei com muito receio da sua reação diante da quantidade de atividades que assumiria. Além da escola, seriam 4 tardes completamente comprometidas, duas com a Terapêutica e duas com a Pedagógica, além da sessão individual de terapia e as aulas de natação.

Eu me cansava só de imaginar.

Mas a recomendação que sua terapeuta me deu foi colocá-la e avaliar, pelo seu comportamento, se estava sendo demais para ela. Naquela oportunidade, ela ainda não colocava com tanta propriedade os seus desejos...

E tudo seguiu muito bem até meados do segundo semestre do ano passado. Até então ela não dava mostras de cansaço e conseguia dar conta da extensa agenda.

Mas exatamente na época em que começou a reclamar da Pedagógica, intensificou seus atos de autoagressão, o que acabou me deixando muito preocupada.

Cheguei a conversar na Pedagógica, e também na Terapêutica, na escola, com a sua psicóloga, para tentar descobrir o motivo, tentar fazer mudanças que a fizessem mudar também.  A rotina lá mudou um pouco; as atividades de casa, tanto da Pedagógica, como da escola foram suspensas, deixamos o seu tempo em casa mais livre, mas ela permanecia firme em seu intento.

Então o ano acabou. Vieram as férias e o assunto morreu por aqui.

Eu já estava convicta que sua rotina seria alterada para 2016.

E, como ela não mudou de ideia, saiu da Pedagógica como eu havia prometido. E faço questão de repetir, quantas vezes seja necessário, sempre que a estiver levando à Terapêutica e ela disser "Pedagógica não", que ela não está indo para a Pedagógica porque nós tínhamos combinado que ela não iria mais se ela me demonstrasse que estava sendo demais para ela. Ela tem que estar convicta do poder da sua manifestação de vontade!

Nesta nova fase da Leti decidida, falante, desejante e comunicante, preciso validar, na medida do possível, suas decisões. Sempre dentro da margem do negociável, é claro!

Tirá-la da Pedagógica não significa que tiraria da escola se ela também assim o quisesse. Afinal, ela precisa aprender que seus desejos são validados, mas que também existem regras em relação às quais ela precisa se amoldar.

E sair da Pedagógica também não significa que ficará sem o apoio pedagógico que precisa, principalmente nesta importante fase de alfabetização. Já estamos nos mobilizando para fazer uma outra abordagem, com foco mais direcionado na alfabetização, e por um período de tempo mais curto. Em breve estaremos cheios de novidades por aqui...


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E por falar em margem do negociável, eu estava preocupadíssima com a volta às aulas de Mateus. Ele, muito amadurecidamente, vinha compartilhando comigo seu novo projeto de vida de não ir mais à escola e ficar só em casa. Falava com muita tranquilidade e convicção.
 
Mas como sair da escola foge à margem do negociável, fizemos um combinado: nos primeiros dias de aula, ele poderia ir à escola de fantasia, até se adaptar melhor. Queria proporcionar leveza ao seu retorno. Como a escola não se opõe, negociamos o fardamento e ele seguiu para a escola, lindo e leve, resistindo um pouco para entrar na sala, mas ficando bem logo em seguida.
 
E assim voltamos a nossa abençoada rotina...



 

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