sábado, 28 de novembro de 2015

Maravilhosa Leti

O projeto do segundo semestre para a aula de teatro era encenar, no fim do ano, o episódio da Festa no Céu, do Sítio do Picapau Amarelo.
 
O primeiro passo era ambientar as crianças com a história e depois definir os personagens. Como Leti, desde sempre, simpatizou com a Cuca, não foi surpresa para mim saber que representaria este personagem.
 
Os ensaios aconteciam na escola e o texto foi encaminhado para casa, para que repassássemos com as crianças. Ao mesmo tempo, os pais ficaram encarregados de providenciar o figurino.
 
Meu primeiro grande impasse para caracterizar a Cuca seria encontrar algo que coubesse em Leti e que conseguisse reportar à Cuca, sem nenhum acessório de cabeça, por conta da sua resistência.
 
Como sua professora de Artes estava confeccionando algumas fantasias, pedi que fizesse a de Leti também, já que ela a conhecia e tinha acesso fácil para medidas e experimentações.
 
Ela deu a ideia de fazer uma roupa de baixo verde, para fazer as vezes da pele da Cuca, fazer um vestido vermelho e, por cima, a cauda. Para completar, pintaríamos o cabelo com spray amarelo. Mas isso não deu muito certo. E assim foi. Tivemos uma Cuca glamorosa por aqui.
 
 
com Mari e Amanda
 
 
Até o dia da apresentação o suspense estava no ar. Nos ensaios, às vezes Leti ia bem, às vezes não queria saber de nada. Sempre repetia "ensaiar não, ensaiar não". Confesso que em casa foram poucos os momentos que passamos o texto juntas. Eu não tinha muitas expectativas. Na semana anterior tinha havido a apresentação de Mateus e ele havia participado pouquíssimo. Estava preparada para repetir a experiência, se fosse o caso.
 
Já estava suficientemente feliz com o processo, por perceber que Leti havia se apropriado do seu personagem, o que ficava muito claro para mim, todas as vezes que ela enfaticamente repetia "Eu sou a maravilhosa Cuca!!!", parte do seu texto na peça.
 
ensaiando com professor Fábio
 

Mas como Leti teima em me surpreender, eu também estava pronta para uma surpresa, se ela me tivesse sido reservada. Pelo menos achava que estava.
 
Cheguei cedo e fiquei por perto, aguardando as coordenadas de sua professora (Mari) e da sua acompanhante - AT (Amanda).
 
Como Samir atrasou um pouco, acabei demorando de descer para o teatro e quase fiquei sem lugar. Mas havia algo no ar, algo meio que indizível. Eu cheguei, e abriram espaço para mim na primeira fila. Samir chegou logo depois, com seu tio-pai, e lhes abriram um lugar bem perto de mim. O mesmo aconteceu com Lipe. E assim nos acomodamos, a família Mascarenhas, num local estratégico, gentilmente cedido por familiares que, talvez intuitivamente, soubessem que, apesar de estarem prestes a testemunhar um momento especial na vida de suas crianças, provavelmente aquele momento tivesse um valor ainda mais significativo para nós.
 
Eu já sabia que usariam um microfone na hora da fala de Leti, porque ela fala muito baixinho. E isso era um ponto a nosso favor. Ela adora um microfone e grande era a probabilidade de querer aproveitá-lo.
 
Amanda estaria ao seu lado, fazendo as mediações necessárias para ela poder apresentar o seu personagem.
 
Quando chegou ao teatro, a primeira coisa que ela quis fazer foi tirar o sapato. Tiramos, é claro! Ficou um pouco sentada ao meu lado, depois foi para trás das cortinas, ficar com seus colegas e acompanhar a apresentação dos bastidores.
 
Até que foi chegada a sua hora, prévia e sutilmente anunciada a mim por sua professora.
 
Minha primeira emoção foi ver Amanda fantasiada de Cuca, para se apresentar ao lado da minha pequena. Achei de uma sensibilidade, de um cuidado...
 
O coração estava aos pulos esperando o momento da sua fala. E ela falou!!!!!!!!!!!! Linda!!!! Do jeitinho dela, baixinho, trocou uma palavra (como às vezes acontecia no ensaio, mas ninguém percebeu), deu ênfase à "maravilhosa Cuca" (arrancando risos da plateia) e, com o apoio de Amanda, rodou pelo palco enquanto tocava a música de Cássia Eller. Na fala seguinte, também. Vez por outra, ameaçava apertar as bochechas, certamente para conter a ansiedade, mas, com a ajuda necessária, conseguiu, a meu ver majestosamente, dar cabo de seu personagem.
 
Foi a única Cuca do espetáculo e única foi a experiência que me proporcionou, a qual jamais esquecerei.
 
Sua performance no palco, sem dúvida, foi uma grande demonstração de superação, de suas ansiedades e limitações, e mereceu os aplausos que conquistou e a emoção que provocou.
 
Mesmo sem me dizer diretamente, tenho certeza que a emoção extravasada por sua professora, logo depois do final do espetáculo, ao falar do desafio e da alegria do ano letivo que se encerrava, estava intrinsecamente ligada à performance da minha pequena, que fechou com chave de ouro o importante processo vivenciado ao longo do ano.
 
E este simbólico fechamento não seria possível sem a incansável atuação de Mari, sem o apoio incondicional de Amanda, sem a sensibilidade e competência de Fábio, seu professor de teatro, e sem o importante suporte de Lena, psicóloga da escola, aos quais oferto meus sinceros agradecimentos e votos de uma vida longa e feliz, extensivos a todos os funcionários da escola Arco Íris, que deram sua valorosa contribuição para o importante desenvolvimento de Leti neste ano de 2015.
 
E que no próximo ano letivo os resultados sejam ainda surpreendentemente melhores!
 
Agora, uma sessão degustação para vocês:
 

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