sábado, 5 de setembro de 2015

Muito Além dos Manuais

O que é maternidade senão uma oportunidade para se reinventar? Aprender, reaprender, desaprender. Avançar, retroceder...
 
Tenho aprendido a ser mãe de adolescente com Lipe. E com que mais poderia ser?
 
Confesso que já li muito, procurando fórmulas que me ajudassem a educar meus filhos e a aliviar as minhas culpas. Principalmente quando me vi como mãe de primeira viagem.
 
E é óbvio que, de cada leitura, deflui um aprendizado, um insight, que acaba ajudando a construir a nossa história. Mas só isso. Nada além disso.
 
Nenhum livro, nenhuma fórmula, nenhum método pode ser mais eficaz que a experiência da mãe e/ou pai com seu filho.
 
Ouvi isto numa palestra na escola dos pequenos semana passada e me identifiquei tanto... Apesar de parecer tão óbvio, isso parece tão esquecido.
 
O palestrante falava da atualidade, das terceirizações, das falsas verdades paralisantes, das super agendas das crianças de hoje, da falta de tempo para o ócio, da patologização da infância, do compromisso inadiável de prepará-las para um futuro promissor. Ainda que tenham apenas 3 anos de idade... Os exemplos seriam cômicos se não fossem trágicos.
 
A proposta do encontro não era fornecer respostas, mas fomentar perguntas.
 
E foi exatamente como saí. Cheia de perguntas.
 
Na verdade, as perguntas já vêm ocupando a minha mente há tempos. E me mobilizando para tentar algo diferente com Lipe.
 
O resultado na escola na última unidade me fez repensar algumas condutas e remodelar uns procedimentos.
 
Percebi que vinha reproduzindo um modelo que não estava dando muito certo e, depois de chegar a esta constatação, decidi que estava na hora de mudar.
 
A primeira coisa foi romper com o meu preconceito de que filho meu não precisaria de acompanhamento escolar (banca), porque era minha função prestar este acompanhamento.
 
Seja porque o conteúdo esteja mais complexo, seja porque esses momentos de acompanhamento só desgastavam nossa relação, resolvi apelar para professor particular. De português e matemática, e até o fim do ano, para assegurar um embasamento mais substancioso para os conteúdos que estão por vir.
 
Resolvi também dar um apoio nas matérias de humanas e em inglês, que são as que mais gosto. Mas de uma maneira diferente. Mais leve, mais colaborativa, menos focada na cobrança. E esse foi o grande ponto da mudança.
 
Estudo para mim sempre foi obrigação, por isso sempre fui muito rígida na sua cobrança.
 
Continuo pensando que estudo seja obrigação, mas passei a fazer a cobrança de uma maneira diferente.
 
Antes, eu "tomava sua lição" nos intervalos do trabalho ou dos cuidados com os pequenos, sempre preocupada com a atividade que estava pendente. Agora, reservo os momentos de estudo para quando eu posso lhe dedicar atenção integral (normalmente quando os pequenos estão fora ou dormindo).
 
Antes, eu partia do pressuposto que ele TINHA que saber o assunto e, se percebia que não sabia, a providência era encaminhá-lo para estudar de novo e de novo e até que o assunto estivesse devidamente apreendido. Agora peço para estudar (ele normalmente faz um resumo do assunto) e, quando percebo que não sabe algo, lemos juntos, discutimos e lhe explico o que ainda porventura não tenha ficado suficientemente claro.
 
Antes, o momento de estudo era obrigação, agora é de prazer. De verdade!
 
Foi delicioso estudar história e geografia com ele; relembrar assuntos, aprender com ele, ensinar... Estudamos deitados na cama, num tom de bate papo, sem necessidade de exercitar o autocontrole para segurar o stress porque simplesmente não rolou stress.
 
E o melhor: o resultado foi excelente! As notas das avaliações foram ótimas!
 
Não que isso seja o mais importante. Já faz tempo que desencanei em relação à cobrança de notas excelentes, mesmo achando que ele tem potencial pra isso. Mas neste momento em particular ter os resultados era importante.
 
Durante todo o primeiro semestre eu estava experienciando dar oportunidade para o exercício de sua autonomia em relação aos estudos. Mas acho que acabei deixando as coisas muito soltas.
 
Depois de participar de uma reunião em sua escola, quando a orientadora relatava que a grande maioria dos alunos de sua série ainda precisavam de um acompanhamento mais de perto para assegurar os momentos de estudo, e de conversar com alguns profissionais, resolvi voltar atrás e acompanhar sua rotina de estudo mais de perto.
 
Diariamente, tenho "lembrado" que faça suas atividades e que estude algum assunto. Por amostragem, pego algumas atividades para corrigir e tenho conseguido manter o clima leve para os estudos das matérias de humanas e inglês.
 
Tenho tentado mudar o tom no diálogo também, buscando evitar a imposição pela autoridade. E isso é tão difícil. É um exercício. Abrir mão do "não pode porque não pode" para dar um motivo sempre. Abrir mão do modelo que está incutido pelo tempo no subconsciente para aprender um outro modelo... Um modelo que compreenda melhor as sutilezas da adolescência nestes tempo modernos.
 
Em paralelo, tenho falado mais de mim, de minhas experiências, de meus medos, de minhas alegrias, de coisas que vivi quando tinha a idade dele. Temos também retomado o hábito de fazer programas a dois e estamos até assistindo a uma série no Netflix juntos (só por ele eu me disporia a parar para assistir TV). E isso tem nos aproximado tanto...
 
Ontem passamos uma tarde maravilhosa no Palacete das Artes. Vimos a exposição da África de Claudio Masella, fizemos um lanche no Café, sentamos confortavelmente no banco que ele escolheu e tivemos uma  conversa tão profunda, tão cúmplice, tão gostosa, tão particularmente nossa...
 
Sinto que estamos no caminho certo e que a adolescência se descortina para nós como uma oportunidade para estreitar nossos laços de cumplicidade, como há tanto desejado por mim.
 
Desejo apenas conservar a capacidade de mudar quando for preciso, avançar ou retroceder, sempre buscando a melhor versão do meu lado mãe.
 



Ele me mandou com a legenda "foto da fotógrafa"
 
 
 
 

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