quarta-feira, 10 de abril de 2013

Relatório Psicológico


E hoje, fazendo um levantamento dos interesses de Leti para encaminhar para uma pedagoga sugerida pela psicóloga que lhe avaliou, acabei relendo o relatório de avaliação (enviado para mim no início de março), e vendo o quanto ela já melhorou depois que colocamos em prática todas os encaminhamentos sugeridos.

Apesar de já ter escrito sobre (quase) tudo que está no relatório, fiquei com vontade de compartilhá-lo aqui, na íntegra, para que fique guardado para a posteridade.


Letícia foi encaminhada pela Terapeuta ocupacional em função do aumento da frequência dos comportamentos estereotipados. Foi feita uma sessão com a mãe e a criança seguida  de reunião com as profissionais que a acompaham ( T.O e fonoaudióloga).

De fato Letícia se apresentou no consultório mordendo as bochechas e passou muitos momentos em balanceios, especialmente em momentos mais delicados do ponto de vista emocional. Ela iniciou os balanceios quando eu perguntava sobre o nascimento do irmão e sua reação frente a isto e também quando perguntei sobre como ela ficava na escola. Quando a mãe fala que no ano passado  "ela não existia para os colegas" ela inicia seu comportamento estereotipado.

Letícia parece demonstrar aquela contradição presente nas crianças autistas de parecer tão alheia ao ambiente e por outro lado tão sensível às mudanças no seu meio. Ela apresenta uma  capacidade cognitiva, expressa pela sua possibilidade de absorver certos conteúdos pedagógicos, de responder ao que se  demanda, seja com respostas ecolálicas, seja através de músicas.

A interação com o outro está muito prejudicada especialmente no que concerne à interação pelo olhar. Letícia manteve o olhar abaixado  quase todo o tempo da sessão, não mantendo o olhar em minha direção .

A questão da dificuldade na integração sensorial é evidente em vários domínios: o excesso de atividade vestibular, o excesso de busca na oralidade, que não se restringe à demanda ilimitada de alimentos mas também a exploração dos objetos passa pela boca dificultando o uso mais funcional dos objetos. O jogo simbólico não apareceu e a manutenção de um brincar compartilhado com ela não foi possível nesta sessão em que esteve envolvida com a observação e manipulação dos objetos.

A questão corporal apresenta dificuldades: além de estar com o peso elevado para a idade, o que dificulta sua movimentação, o tônus parece enfraquecido e as pernas se mostram com pouca flexibilidade e mobilidade. É como se ela não tivesse se apropriado da parte inferior do seu corpo.

 Conclusões

Apesar de Letícia ter passado por numerosas avaliações neurológicas e diversos exames não forma identificados marcadores biológicos que justifiquem a condição do seu desenvolvimento. Entretanto seu comportamento e desenvolvimento são compatíveis com o quadro de autismo infantil, com  alguns comportmentos considerados severos dentro deste quadro como o excesso de comportamento estereotipado e as auto-agressões. Entretanto o seu potencial linguístico e cognitivo são os grandes favorecedores deste potencial ainda não totalmente desenvolvido em função do seu intenso fechamento  em relação ao outro e consequentemente, às suas demandas.

 A questão sensorial é extremamente importante no seu tratamento pois, ao tratar suas defesas corporais, a interação será facilitada e com isto as demandas pedagógicas ou promotoras do seu desenvolvimento poderão ser mais facilmente atendidas. Atualmente a demanda do outro é de tal modo intrusiva e insuportável que ela responde com um fechamento com todo o seu corpo: não olha, se balança, se defende se auto-agredindo. Ao trabalhar sua organização sensorial acreditamos poder devolver à Letícia uma condição de enfrentamento às mudanças ambientais, e à relação com as pessoas e objetos.

Recomendações terapêuticas


·        Iniciar um trabalho intensivo (3 vezes por semana) na Ciranda, trabalho que abarca as questões sensoriais, socialização, linguagem, etc.Pelo fato deste trabalho só ser possível no turno vespertino ,que coincide com o período da sua escola, consideramos prioritário o trabalho sensorial que dará melhores condições de Letícia enfrentar os desafios da escolarização, que podem aumentar seu comportamento estereotipado e suas defesas caso ela não esteja em boas condições de integrar estas vivências e recebê-las de um modo positivo que propicie seu desenvolvimento.
·        Caso a escola esteja de acordo, manter a escolaridade duas vezes por semana, já que a mudança de turno não é possível, ao menos no primeiro semestre. Uma segunda avaliação multidisciplinar para discutir avanços e limites destas propostas poderá se dar com o objetivo de pensar as ações para o  segundo semestre.
·        Como as manhàs estarão livres, é indicada a prática da natação como rotina diária. Esta prática facilitará a perda de peso, melhorará seu tônus e uma maior exploração da parte inferior do seu corpo que está pouco explorada, o que  reflete na sua dificuldade de realizar muitas atividades recreativas e lúdicas.
·        Início de tratamento psicanalítico com a presença dos pais para ampliar sua condição de interação e comunicação.
·        Ampliar o universo de conhecimento e atividades através de apoio audio-visual como leitura de livros e apresentação de vídeos e jogos em ipad para verificar se seu interesse na aprendizagem se amplia com uma interação mediada por um objeto com recursos visuais. E tambem sugerida uma avaliação a respeito do uso do computador e recursos pedagógicos mais adaptados a suas condições com a pedagoga recomendada que poderá inclusive fazer propostas à escola para uso de material adaptado.


2 comentários:

aprendendoasermae disse...

Jana tem que ser uma super mãe para saber lidar com todos os acontecimentos.
Força e um grande beijo!

Anônimo disse...

Mãe,
como profissional de saúde e habituado a emitir laudos e pareceres, entendo que, assim como existe o sigilo da parte do autor, existe também por parte do cliente e que, de forma alguma, estará o cliente (você, no caso), autorizada a postar em público ou a reproduzir para terceiros o Relatório feito pelo profissional que a atendeu, muito menos sem permissão do profissional para isso.
Mesmo que o profissional não seja identificado, a recomendação é tirar este relatório do ar, sob pena de consequências legais para quem postou ou até para o profissional que o emitiu, pois o relatório tem direitos autorais e de sigilo. E ainda pode, para prejuízo do profissional, ser copiado por maus profissionais, dando ensejo a fraude e plágio. Aconselho a deletar.

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