domingo, 3 de março de 2013

Mudanças: O Papel da Escola (parte 4)

Minha maior preocupação em relação a todas as mudanças pelas quais a vida de Leti passará nos próximos meses, sem dúvida, repousava na sua permanência, ou não, na escola.

Eu já tinha tido uma conversa inicial com a escola no dia seguinte à conversa com a psicóloga, quando, simplesmente, pensamos juntas e levantamos possibilidades: eu, a coordenadora e a diretora (e proprietária).

Nesse dia, eu estava extremamente angustiada e sensível! Falei da conversa com a psicóloga, das minhas impressões sobre Leti, das possibilidades abertas em relação à escola e do meu medo em quanto à decisão a ser tomada. Perguntei sobre o comportamento de Leti na escola, sobre sua concentração e seu aproveitamento.

A diretora foi muito sincera e transparente, confirmando que Leti, neste início do ano, tem se enclausurado muito em suas estereotipias. Mas achou prematuro rotular seu comportamento com tão pouco tempo de volta às aulas, considerando que várias outras crianças, típicas e especiais, novas e antigas, têm apresentado problemas na adaptação.

Inicialmente, ambas não foram simpáticas à ideia de Leti sair da escola, e a coordenadora demonstrou sua preocupação com a possibilidade de Leti ficar apenas na Ciranda assemelhar-se ao retorno às escolas especiais, mesmo tendo conhecendo, e respeitando, o trabalho feito lá.

Antes de me dar qualquer opinião, todavia, disseram que queriam conversar com as terapeutas para ouvir o que elas tinham para falar a respeito.

Como disse aqui, depois da conversa entre as psicólogas e as terapeutas, sentamos para conversar a TO, a fono, eu e Samir.

Em relação à escola, as terapeutas não entraram num consenso; uma achava que ela deveria continuar apenas duas vezes por semana, para não perder completamente o vínculo com a escola e com as pessoas de lá, ao passo que a outra achava que a permanência tão descontinuada não atingiria à finalidade que se esperava da escola, tanto no aspecto pedagógico, como social.

Eu, particularmente, no íntimo, desejava que ela continuasse. Por vários motivos: porque seria mais conveniente para mim, e para a organização da minha vida, que ela estivesse com todas as tardes ocupadas; porque eu achava que as conquistas do ano passado corriam o risco de se perder com um afastamento definitivo da escola; porque eu não queria que toda a experiência de vivência em grupo que ela tivesse fosse limitada a grupos formados apenas por crianças especiais; porque, mantendo a escola, poderíamos perceber mais rapidamente as mudanças em seu comportamento decorrentes das alterações que estamos implementando em sua vida.

Conversamos sobre o papel da escola e concordamos que, pedagogicamente, muito se perderia sem a continuidade das aulas já que muitas das atividades que começam num dia acabam se prolongando pelo(s) dia(s) seguinte(s). O social também ficaria um pouco prejudicado sem o convívio diário com os colegas, o que poderia dificultar, ou retardar, a construção dos vínculos.

Em relação ao pedagógico, embora tenha sua inequívoca importância, não tivemos grande preocupação, tendo em vista que todos que acompanham Leti acreditam muito no seu potencial de aprendizagem, que deve acontecer no tempo da minha pequena.

Aliás, depende do que se entenda por pedagógico, já que, como na educação infantil o currículo não se limita a conteúdos específicos de aprendizagem, como os da área matemática ou de linguagem, mas inclui também habilidades na área da autonomia, de identidade, de linguagem artística, musical, da relação com o meio físico e social, fica difícil dissociar o pedagógico do social.

Quando falo social, na verdade, quero falar da construção das relações de Leti com o outro, dentro do ambiente escolar e isso, mesmo ficando um pouco prejudicado, sem dúvida, será melhor construído com a permanência fragmentada que com o afastamento definitivo da escola.

Sendo assim, pesando todos os prós e contras, acabamos concordando que, apesar de ficarmos numa situação longe da ideal, a manutenção da escola, e de todo o progresso que tivemos até então, seria mais benéfico a minha filha que o afastamento definitivo deste ambiente.

Ainda que, neste momento, suas estereotipias a estejam impedindo de participar das atividades e  de interagir com o grupo, preferimos apostar que, com o apoio de todos, e com o diálogo constante entre os profissionais que lidam com a minha pequena, esse obstáculo logo possa ser transposto, deixando o terreno mais propício para suas novas conquistas.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...