quinta-feira, 12 de abril de 2012

BLOGAGEM COLETIVA: INFÂNCIA LIVRE DE CONSUMISMO

O que de tão nefasto pode haver por trás de uma propaganda voltada ao público infantil?

Desde que comecei a acompanhar as discussões na página do facebook com mesmo nome do título da presente postagem, tenho refletido muito sobre isso.

Até então, nunca tinha aventado para a possibilidade das propagandas de bonecas e brinquedos da Discovery Kids poderem causar algum tipo de mal aos meus filhos.

Ingenuidade! Ingenuidade de quem não conhece o real poder da mídia e da propaganda. De quem não consegue enxergar além de um palmo na frente do nariz, quando o assunto é propaganda.

Não sei porque, ou talvez saiba, mas sempre que me atenho pensando sobre o assunto, me lembro do cigarro. Lembro-me de como era comum, quando era menor, estar rodeada por fumantes (meus pais, inclusive). De como parecia fazer parte de um processo de inclusão social ter um cigarro aceso entre os dedos. De como parecia careta não fazer uso do cigarro.

E, de repente, já maior, numa festinha, procurando alguém que tivesse um isqueiro para acender a vela do bolo de Lipe, nos atentamos que teríamos que recorrer a um palito de dente, aceso no fogão com acendedor elétrico (que dispensa fósforos em casa), porque não havia um só fumante naquele círculo de amigos (nem os meus pais), que dispusesse de um isqueiro que pudesse nos auxiliar.

E o que teria acontecido entre cada uma destas cenas da minha vida? A proibição da propagandas de cigarros!

Não acredito que meus pais tenham deixado de fumar (há muitos anos atrás) por conta da vedação da propaganda, mas não tenho dúvida de que a proibição contribuiu consideravelmente para a redução do número de fumantes em nosso país. Eis aí a comprovação inequívoca do poder da propaganda (para mim).

Então me pergunto mais uma vez: o que de tão nefasto pode haver por trás de uma propaganda voltada ao público infantil?

O que mais se busca combater, com a regulamentação de tais propagandas, é a transformação de nossos lindos filhos em consumidores vorazes, inconsequentes e frustrados. Mas as agências, replicam: é responsabilidade dos pais dar limites a seus filhos, ensiná-los a fazer uma leitura crítica de anúncios publicitários e fazê-los entender que nem sempre se pode ter tudo o que se quer.

[Também era responsabilidade dos pais ensinar aos filhos que fumar faz mal à saúde. Ou  pior: era esperado que adultos (fumantes) tivessem este discernimento.]

Os pais têm incontáveis responsabilidades em relação a seus filhos, é verdade. Inclusive as atribuídas pelas agências publicitárias. Os pais devem, sim, limitar o acesso à televisão, educar para um consumo consciente, fomentar o pensamento crítico. Para a vida. Mas não devem simplesmente falar, devem dar o exemplo, devem ser consistentes e coerentes.

E é neste ponto que faço meu mea culpa, e mudo o foco da discussão para falar um pouco da minha experiência pessoal.

Quando Lipe nasceu, nossa situação financeira era limitadíssima! Nunca lhe faltou nada de essencial, e ele, como nós, tinha tudo o que precisava para ter uma vida digna e feliz.

E foi assim em seus primeiros dois anos de vida.

Com nossas aprovações nos concursos públicos que almejávamos, nossa situação financeira melhorou.

E os primeiros anos que se sucederam foram de muitas viagens, curtição... e consumo. De todos nós.

Lipe começou a gostar de dinossauro. Logo que descobria na TV um modelo novo, este passava a fazer parte do seu acervo pessoal. Fosse pelas nossas mãos, ou pelas da tia, ou pelas da avó, ou pelas do avô...

Foi assim com Max Steel, com Gormits, com Bakugans, com Hot Wheels, com os livros do Zac Power... Bastava aparecer uma novidade na telinha e ele já estava se articulando para saber quem lhe daria o mimo.

Neste caso, fomos diretamente responsáveis por seu consumo exacerbado por algum tempo. Fomos vítimas da propaganda juntamente com ele. Fomos vítimas de um sentimento, talvez velado, de tentativa de compensação do tempo passado em que não podíamos lhe dar tudo o que queríamos.

Até nos atentarmos para o mal que estávamos lhe causando.

Me lembro que ele começou a gostar de beyblade por influência dos amigos da escola justamente na época em que nos dispusemos a tentar reverter a situação criada por nós mesmos. Queria, por que queria, o dito cujo. Conversamos que não poderia ter o brinquedo naquele momento, que não precisamos ter tudo que nossos amigos têm, que ele poderia se divertir brincando com os beyblades dos amigos, ou brincando de outra coisa qualquer e mais um sem-número de argumentos que não lembro agora. 

Me lembro como hoje de como fiquei com o coração partido ao chegar na escola e vê-lo olhando, com os olhinhos de pidão, os colegas brincando de beyblade, e mendigando um minutinho de empréstimo do brinquedo.

E de como ficamos orgulhosos, eu e Samir, de ter sido firmes naquele momento, e não ter dado o brinquedo, mesmo que nosso coração praticamente nos arrastasse para uma loja de brinquedos.

E temos tentando, nem sempre com sucesso, continuar fazendo isso por aqui. Tentar frear o consumo. Tentar dar-lhe tempo para desejar muito algo antes de tê-lo, tentar mostrar que as pessoas são diferentes, têm necessidades diferentes, têm realidades diferentes e que a felicidade delas não está nos bens que podem consumir.

No nosso caso, tivemos tempo para mudar os paradigmas, para fomentar uma leitura crítica das propagandas, para tentar conter seu instinto consumista.

Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Nem sempre os pais têm tempo e discernimento para auxiliar seus filhos. E se isso é uma realidade, e a propaganda pode incutir subliminarmente na cabeça de nossas crianças a sensação de que a aquisição de determinado bem estará associada a sentimentos de inclusão social, poder, importância, beleza, ou seja lá o que for (podendo, portanto, outro lado, gerar frustração àquelas crianças de condições financeiras menos favorecidas), penso, sim, que a regulamentação é uma necessidade premente, como forma de proteção das nossas crianças, adultos de amanhã, da mesma forma que outrora se buscou proteger os pulmões de tantos cidadãos fumantes.

5 comentários:

aprendendoasermae disse...

Jana adorei sua postagem.Sempre imagino minha reação a esse comportamento da criança que sempre quer um brinquedo novo seja por influencia dos amigos ou da Tv.O consumismo é um fator existente em todos nos ,hoje eu e Junior temos esse sentimento por Bruna,um perigo,então estamos resgatando um modo mais simples de ver as coisas e certificar se aquilo que estamos comprando é realmente necessario.
Bom o resgate das bricadeiras antigas acho que seria uma boa opção para os nossos filhos e passar a respossabilidade da compra para eles com a mesada por exemplo é uma forma de da um limite aos desejos.
Beijos!

newtonrodrigues disse...

Muito bom o texto. Grandes verdades. Na Bélgica está justamente tramitando uma regulamentação sobre o assunto. Este o o jeito certo de dispormos da tecnologia da comunicação.
Parabéns Jana!

Gilmar disse...

Janaína, vc é de Ouro Fino ou mora em Ouro Fino?

Janaína Mascarenhas disse...

Não. Sou de e moro em Salvador.

Janaína Mascarenhas disse...

Não. Moro em Salvador.

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