segunda-feira, 14 de março de 2011

Inclusão Escolar

É difícil falar sobre inclusão no Brasil. O que esperamos de uma escola inclusiva? Quando podemos afirmar que, realmente, uma escola está praticando a inclusão?

Muitos ainda acham que praticar a inclusão seja apenas proporcionar à criança com necessidades educacionais especiais o acesso ao ensino regular. E ponto. Não há uma preparação sistemática para que os centros educacionais possam, efetivamente, atender às demandas das inúmeras crianças especiais que precisam de assistência em nosso país. Conseqüência disso é que grande parte deste alunado acaba enveredando por outro caminho, alguns, abandonando os estudos; outros, buscando o atendimento das suas demandas em escolas especiais.

Muita controvérsia gira em torno dos benefícios que a escola especial pode proporcionar à criança especial. E acredito que, neste tema, não possamos ser maniqueístas a ponto de tomar como certa apenas a opção que entendemos mais conveniente no momento. Toda moeda possui dois lados. Tenho medo de dizer “desta água não beberei”.

O fato é que, no começo deste ano, instigada por uma discussão ocorrida (ainda no ano passado) num grupo de email de que participo, percebi que precisava começar a pensar um pouco sobre inclusão, já que não tinha muita noção do que isso significava.

Ficava pensando com meus botões: qual a postura que espero da escola em relação a minha filha? Ah, gostaria que a escola (diga-se: seus profissionais) estivesse o tempo inteiro chamando sua atenção para participar das atividades, que não a deixassem sozinha, com suas estereotipias e autoestimulações, que fomentassem seu interesse pela socialização com outras crianças, pela marcha, pela comunicação, pelo grafismo, pelo brincar, que reforçasse sua autonomia...

Este, sem dúvida, seria o modelo ideal.

Mas a vida real está longe de atingir aquilo que idealizamos.

A realidade impõe que os profissionais da escola busquem compatibilizar os cuidados com a minha filha, única criança especial da sua turma de seis alunos, com suas obrigações em relação às demais crianças.

Não posso exigir que todas as atenções estejam sempre voltadas a Leti. O que quero é sentir o empenho da equipe em incluí-la, o máximo possível, nas atividades planejadas para a turma.

Mas, para saber se este objetivo vem sendo alcançado, precisava saber, a princípio, quais são as atividades planejadas para a turma e quais são as estratégias que a escola vem pensando para incluir minha filhota nelas.

Procurando me inteirar do assunto, marquei uma reunião com a coordenadora da escola (profissional altamente qualificada, na minha opinião), para que ela pudesse me explicar um pouco sobre o planejamento da escola para o Ciclo 1 (obs: lá as turmas são divididas em ciclos: ciclo 1 para crianças entre 1 e 3 anos, e ciclo 2 para crianças entre 4 e 6 anos).

Na minha cabeça (santa ignorância!), deveria haver, como há para o ensino fundamental, um currículo mínimo a ser trabalhado com as crianças, que estabelecesse algumas competências mínimas que a criança precisasse adquirir antes do ingresso no ensino fundamental.

Queria saber, então, o que as crianças da idade dela precisariam aprender, para, junto com a escola, pensar formas de tentar facilitar tais aprendizados para Leti.

Mas descobri, naquele momento (e confirmei depois, em pesquisa), que nossa Lei de Diretrizes e Bases não estabelece a obrigatoriedade de um conteúdo a ser trabalhado com as crianças que têm até 6 anos de idade.

Os artigos 29 e 31 da Lei n. 9.394/96 (com suas respectivas alterações), estabelecem que A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.”, e que “Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.”.

Mas o fato de não haver uma imposição legal de conteúdo a ser trabalhado com estas crianças, não retira da escola a obrigação de planejar suas atividades, que deverão sempre ser direcionadas ao aperfeiçoamento do desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social da criança.

Conversamos, então, sobre o projeto da escola para o semestre, sobre a diferença do enfoque para cada ciclo, e, especificamente, sobre a forma que os temas deverão ser trabalhados com a turminha de Leti.

Abrindo um parêntese (ou como diria, Mari, pausa): No ano passado, quando visitava escolas para poder escolher uma para Leti, uma amiga da minha cunhada, profissional da área de educação, que conhecia a minha história, lhe dizia que achava que a escola em que sua filha estudava seria mais adequada para Leti do que a que escolhi, porque nesta a parte pedagógica era muito fraca, e era dado um enfoque muito grande à parte artística. Naquele momento, mesmo ainda desconhecendo o planejamento da escola, tive mais certeza de que estava fazendo a escolha certa, já que o que menos buscava (e busco até hoje) era uma escola conteudista para minha filha. Adoro o fato de Leti ter em sua escola, como professores, um biólogo, uma psicomotricista e um músico! Adoro o apelo artístico que envolve quase todas as atividades de lá. Fechando o parêntese (ou como diria Mari, despausa).

No decorrer da nossa conversa, fiquei mais tranqüila ao perceber que a professora está atenta aos interesses da minha filha e tem feito ajustes no projeto da sua turma para favorecer sua maior interação (ex: ela percebeu, um belo dia, que Leti demonstrava um interesse maior que o normal por fantoches. Então sugeriu à coordenadora que ajustasse o projeto para trabalhar mais com eles em algumas das atividades inseridas no planejamento).

Uma semana depois do meu bate papo com a coordenação, aconteceu uma reunião entre a TO de Leti, a coordenadora e a professora, solicitada pela primeira, da qual, logicamente, eu me voluntariei para participar.

Nesta oportunidade, cada uma falou um pouco das suas impressões sobre Leti, e procurou apresentar alternativas para instigar o resgate do seu interesse pelo brincar e pela utilização da linguagem, que foram deixados um pouco para trás depois que ela começou a dar seus primeiros passos.

1) A pró já tinha tido umas ideias bacanas para favorecer a inclusão. Além da utilização dos fantoches, tinha usado, dias antes, argila com Leti, para tentar tirar um pouco seu foco da areia (que ela adora ficar manuseando só pelo prazer tátil), para algo que pudesse ser mais funcional.

2) Minha sugestão foi fotografar os coleguinhas, para, em casa, poder conversar com ela sobre a escola de uma maneira mais concreta, já que ela ainda não tem abstração quase nenhuma.

Quanto às fotos, na hora em que apresentei a sugestão, a coordenadora falou que poderia ser legal, mas não exclusivamente para Leti. (Lá tudo que é feito para facilitar a inclusão tem que ser disponibilizado para todas as crianças). Ela pensou em aproveitar o gancho do projeto, que vai partir da história de vida das crianças, para fazer uma espécie de álbum, em que tivesse as fotos de todos os coleguinhas, e fosse entregue a todos.

Adorei!

3) A TO sugeriu que, toda semana, Leti fosse fotografada em alguma atividade, e a foto fosse enviada para mim, com alguma descrição, para que pudéssemos conversar a respeito. Eles já têm um registro fotográfico das atividades bem amplo e falaram que encaminhar para mim seria super tranqüilo.

Ótimo!

4) A coordenadora assumiu o papel de defensora de Leti, esclarecendo, com base em sua experiência, que é muito normal, neste momento, em que ela se apropriou do espaço da escola, e vem assegurando a marcha, que demonstre um interesse maior em explorar o ambiente a sua volta, e reduza seu interesse por outras habilidades.


Enfim, o que extraímos desta última reunião foi o interesse comum da equipe para contribuir, da melhor maneira possível, para que o processo de inclusão da minha princesa seja, ao final (?), um prjeto bem sucedido.

Assim, ela só tem a ganhar.

_________________________________________________

Obs: No dia seguinte, quando cheguei com Leti na escola, tive uma agradável supresa. Como havíamos falado na reunião sobre a redução do interesse de Leti pelo brincar, e, sendo notório o interesse dela por areia (ela foge o tempo inteiro para o parquinho ou para o jardim para poder ficar manuseando a terra/areia), sua pró teve a excelente ideia de levar areia para a sala de aula, dentro de uma vasilha grande, junto com panelinhas, talheres e afins. A ideia era dar função à areia, transformando-a em comidinha para bonecas. É claro que Leti não cedeu a tal abstração assim de primeira, mas achei a iniciativa formidável e me sensibilizei com a sensibilidade da querida pró.



4 comentários:

Luciana disse...

Jana querida,

Mto bom saber que nossa pequena está em boas mãos. Sentir que a escola, realmente, faz o papel de parceira da família. Que boa escolha vc fez, amiga!!!!
Tenho certeza de que Leti continuará nos surpreendendo cada dia mais.
EStou aqui aguardando notícias.
bjs

Renata disse...

Poxa, adorei esse post. Bom demais perceber as pessoas realmente interessadas e engajadas na escola. Pelo visto, vc realmente acertou na escolha.
Um beijo grande, Re

MÃE DO GUI disse...

Muito bom seu post de hj viu? Já vi que teho ue passar sempre por aqui qnd o Gui estiver na escolinha!!

bjo

samira disse...

Jana, quando fui visitar a gira girou ainda com intuito de busca de escola pra Pepeu, achei a cara de Leti. Assim q sai de lá te liguei, falei um monte pra vc. Vc já tinha essa referencia, e já estava determinada a conhecer. Eu sai de lá extremamanete emocionada, mãe boba mesma, mas pensando na pequena mesmo, na época Pedro era um bebezinho. Quando surgiu essa conversa da outra esocla fiquei precupada pq me senti um pouco "culpada"de ter ajudado na escola de forma tão"emocional", sim esse é um dos meus grandes defeitos, deixo a racionalidade muito de lado as vezes e me pego a sentimentos do momento e não tem jeito preciso viver aquilo, senão... Hoje lendo seu post fico tão feliz, tão feliz de saber que a escola tem sido tão importante. Leti veio pra isso pra mudar nossa família, pra mudar a escola, pra mundar nossa maneira de enxergar o mundo. Se ela fosse uma criança qualquer, simples assim, nada disso estaria acontecendo. Amo muito, muito essa gordinha linda! Ah, ontem ia te falar e acabei esquecendo, achei q relamente ea diminuiu muito a falaçao, mas não se preocupe com isso, eu li em algum lugar que isso é normal, quando a criança desenvolve muito uma habilidade motora ela pode parar a evoluçao e até retorceder um pouco em outros aspectos... A gorda tá a coisa masi linda de se ver andante, achei tb mais coordenada. LINDA! LINDA! LINDA!
PS: pra falar das minha emoções já q eu não tenho um blog, escolhi a escolha de Peu dentre outrps atributos, pq quando cheguei na escola senti o cheiro da minha infancia, da minha escola, e como eu amava o meu infantil! Como era feliz e como lembro de tantas coisas boas, naquele momento a emoção falou mais alto...Risos! E assim vou vivendo. Beijos na gorda mias linda do mundo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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